terça-feira, 15 de fevereiro de 2011


Você sabia que por causa de O Espigão (1974), o empresário Sérgio Dourado foi confundido com Lauro Fontana, o vilão da novela?
(Relembre a novela O Espigão, de 1974)
Quando a trama foi exibida, Sérgio era o grande o grande nome dos empreendimentos imobiliários no Rio de Janeiro e havia obras de sua construtora espalhadas por toda cidade. Uma parte do público confundiu o empresário com o vilão da trama e, por causa disso, Sérgio chegou a ser agredido por um grupo que protestou no lançamento de um prédio no Rio.
O empresário da novela usava o termo “espigão” para se referir a um projeto de hotel. Por causa disso, a palavra ganhou as ruas e terminou consagrada pelo uso popular, a ponto de virar verbete de dicionário como definição de “edifício com muitos andares”.
Escrita por Dias Gomes,
O Espigão contava a saga do empresário Lauro Fontana (Milton Moraes), que estava decidido a construir no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio, o hotel mais moderno do mundo: O Fontana Sky.
Rede Globo



O ESPIGÃO
Autoria: Dias Gomes Direção: Régis CardosoSupervisão: Daniel FilhoPeríodo de exibição: 01/04/1974 – 01/11/1974 Horário: 22h Nº de capítulos: 112
Trama/ Personagens: - O conflito entre um empresário com delírios de grandeza e os excêntricos moradores de uma mansão no Rio de Janeiro move a trama principal dessa novela escrita por Dias Gomes, a primeira a discutir o avanço acelerado e predatório da expansão imobiliária sobre o meio-ambiente, e a desvalorização das relações humanas em um mundo cada vez mais comprometido com o progresso teconológico. A novela usava uma linguagem coloquial, seguindo a linha que o autor já adotara em Bandeira 2 (1972), e um forte tom de humor. - Lauro Fontana (Milton Moraes) teve uma infância dura, vivida em orfanatos e reformatórios. Para sobreviver, ganhou a vida trabalhando como engraxate, jornaleiro, camelô, bicheiro e leão-de-chácara de motéis. Neste último emprego, conseguiu dar o golpe do baú em Cordélia (Suely Franco), a filha fútil e temperamental do seu patrão. Após a morte do sogro, ele assumiu o comando dos negócios, multiplicou seu patrimônio e se tornou um dos empresários mais bem-sucedidos do ramo hoteleiro. Ele compensa todas as frustrações acumuladas no passado miserável com empreendimentos megalomaníacos marcados pelo seu fascínio desmedido pela tecnologia. - O projeto mais ambicioso de Lauro Fontana é o Fontana Sky, um monumental edifício de 50 andares planejado para ser o hotel mais moderno do mundo. O "espigão", como foi apelidado, teria teatros e cinemas nos andares inferiores, uma piscina em cada andar e rampas de acesso exclusivas para os apartamentos. A magnitude da obra é tamanha que o empresário calcula que "pelo menos cem operários devem morrer durante sua execução". Para que seu sonho se torne realidade, entretanto, Fontana precisa primeiro tomar posse do local, considerado ideal para a construção do edifício: uma área arborizada de mais de cinco mil metros quadrados no bairro de Botafogo. Porém, o terreno em questão abriga a mansão dos irmãos Camará, que estão dispostos a conservarem intacta a propriedade atendendo ao último desejo do falecido pai, o velho advogado Martiniano Pedreira Camará. A casa e a área verde ao seu redor foram tudo o que restou da antiga fortuna do advogado. - Filhos de Martiniano com quatro mulheres diferentes, os quatro irmãos Camará são figuras cheias de neuroses e idiossincrasias. Somente com o consentimento de todos eles o terreno pode ser vendido. Urânia (Wanda Lacerda), a filha mais velha, é uma viúva que nunca sai do casarão e, regularmente, reúne os irmãos ao redor de um coqueiro plantado pelo pai, num ritual para cultivar sua memória. Fiel à vontade do pai, que lhe aparece em visões, ela se recusa a vender a casa. Também contra a venda da casa, mas por razões diferentes, está Baltazar, o Tatá (Ary Fontoura). Botânico renomado, ele deseja evitar a devastação que a construção do espigão fatalmente provocaria em mais uma área verde da cidade. É também desajeitado e sexualmente reprimido, e compensa a dificuldade de se relacionar com as mulheres colecionando mechas dos seus cabelos. Igualmente reprimida é a virgem quarentona Tina (Suzana Vieira), que costuma sair pelo bairro e flertar com estranhos, mas tem ataques de pânico quando eles se aproximam. Ela também não quer deixar a casa, porque isso a obrigaria a ir morar em um apartamento, onde não teria como criar os 25 cães vira-latas que recolheu das ruas. Apenas Marcito (Carlos Eduardo Dolabella), o caçula, é a favor da venda do casarão. Espécie de Don Juan moderno, ele sonha em gastar sua parte do dinheiro com as várias mulheres que namora ao mesmo tempo. O rapaz só consegue se satisfazer sexualmente, porém, quando ouve o som de sinos badalando. - O primeiro capítulo reuniu vários personagens em um gigantesco engarrafamento de trânsito, na noite de réveillon, desenhando assim algumas das tramas paralelas da novela. Neste contexto, nasce o romance entre Dora (Débora Duarte) e Léo (Cláudio Marzo). Ela é uma moça humilde, recém-chegada ao Rio, recém-viúva, grávida e sem muitas perspectivas na vida. Ele acaba de chegar do Maranhão para tentar ganhar a vida. Quando Dora entra em trabalho de parto dentro de um táxi, no túnel Rebouças, Léo desce do ônibus e a ajuda a dar à luz. A partir daí, os dois passam a ser solidários um com o outro. Dedicado defensor da natureza, Léo também se torna um dos que vão se opor à construção do espigão em Botafogo. - Cordélia Fontana é outra personagem que presencia o parto de Dora. Estéril, mas obcecada com a idéia de ser mãe, ela pressiona Lauro a adotar a criança. Porém, mesmo com todas as dificuldades, Dora resiste ao assédio do empresário e consegue criar sozinha o filho. Mais tarde, Lauro e Cordélia decidem recorrer à inseminação artificial, a grande novidade da medicina na época. - No engarrafamento, Lauro Fontana conhece ainda Lazinha Chave-de-Cadeia (Betty Faria), que se torna a sua amante. Assim como o empresário, Lazinha sobreviveu a uma infância miserável. Ela sofreu violência física do pai e fugiu de casa. Cresceu trabalhando em bares no Beco da Fome, onde se tornou líder de uma quadrilha de assaltantes, da qual fazem parte seu braço-direito, o bandido intelectual Nonô Alegria-das-Gringas (Milton Gonçalves), e o sentimental Dico (Ruy Mendes). Eles estão em fuga, após terem assaltado uma joalheria, quando se vêem presos no engarrafamento. - Todas as artimanhas vis de Lauro Fontana acabam por vencer a resistência dos irmãos Camará no final da novela. Eles ficam enfraquecidos depois que Urânia morre, atingida na cabeça por um coco, e decidem vender o terreno e a mansão. Na cena final, enquanto manifestantes de movimentos pró-ecologia são mantidos afastados por policiais, o empresário assiste impassível à demolição do casarão e à limpeza do terreno onde, em breve, começaria a ser erguido o espigão. Produção: - Sobrevivente de um passado cheio de privações, Lauro Fontana tinha obsessão pelos confortos proporcionadas pela tecnologia. Para tornar real a atmosfera de sofisticação tecnológica que cercava o personagem, a TV Globo importou dos Estados Unidos vários objetos considerados ícones da modernidade do momento, que foram incorporados aos cenários da sua casa e do seu escritório. Entre eles, um super-relógio digital de mesa, que permitia ao empresário saber as horas em vários países do mundo; um aparelho que servia ao mesmo tempo como rádio, abridor de cartas e apontador de lápis; uma escova de dentes elétrica com um dispositivo que permitia a adaptação de um pente para secar os cabelos; e dois pares de óculos muito peculiares: um, para ser usado em saunas, com pequenos pára-brisas nas lentes; e outro, para ser usado no escuro, com dois mini-holofotes. - A produção também construiu um elevador de acrílico e alumínio no qual Fontana chegava ao seu dormitório - Para reproduzir em cena os requintes tecnológicos descritos no texto de Dias Gomes, foram elaborados alguns "efeitos especiais" bastante rudimentares, mas que produziam ótimos resultados. Nas cenas em que Lauro Fontana atravessa o corredor de acesso ao seu escritório, por intermédio de uma esteira rolante, por exemplo, o ator Milton Moraes ficava em pé sobre um carrinho, que era puxado por um contra-regra. Em outras cenas, Cordélia, mulher do empresário, tentava relaxar em uma cama que trepidava quando ela acionava um determinado dispositivo. Para se conseguir esse efeito, a cama cenográfica fora construída sobre pneus, que eram sacudidos pelos contra-regras.

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